quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Agropecuária no Velho Continente - Criatividade amplia lucro de produtores alemães

Produtores alemães usam criatividade para lucrar mais
Agricultores apostam na aproximação dos consumidores da área rural

Luiz Patroni | Lorkenhöhe (Alemanha)

A busca pelo aumento da rentabilidade é um desafio comum a produtores de todo o mundo. A cada dia fica mais difícil para quem vive na área rural conseguir sobreviver apenas com o dinheiro que vem do campo. Na reportagem desta quinta, dia 18, da série Agropecuária no Velho Continente nossos repórteres mostram como agricultores alemães estão fazendo para ampliar os lucros. A solução encontrada foi a criatividade e a aproximação com o consumidor.

O som inconfundível dos trens e o movimento frenético na estação central marcam a cidade de Colônia, a quarta maior da Alemanha. Na cidade vivem um milhão de habitantes. Locomotivas e vagões cruzam a ponte sobre o rio Reno e ajudam a desenhar um dos mais conhecidos cartões postais do país.


Mas a logística diferenciada de hoje esconde uma história triste, que é lembrada pela enorme catedral: um dos únicos prédios que resistiram à Segunda Guerra, quando 95% do município foi destruído. A igreja, que levou mais de 600 anos para ser erguida, ainda passa por reformas.

O movimento que ocorre na cidade pode ser comparado ao que acontece em algumas propriedades rurais alemãs. Na zona rural, visitamos a fazenda de Thomas Eserhard. Dono de 200 vacas leiteiras, o pecuarista encontrou uma maneira de ampliar os lucros sem sair de casa. Há 20 anos começou a vender produtos derivados do leite direto ao consumidor. O negócio deu certo e evoluiu, hoje menos da metade da produção é levada para o laticínio. A maior parte fica na própria fazenda, onde é transformada em derivados como o queijo.

– No começo a produção era como um hobby. Achava interessante agregar valor ao leite através da produção de derivados. Depois de um certo tempo percebi que a rentabilidade tinha aumentado muito por conta dos derivados – comenta o produtor.

A produção de derivados garante um giro financeiro de um milhão de euros por ano. Outros 700 mil euros vêm do pequeno restaurante instalado na frente da fazenda.

– Gosto de vir ao restaurante por dois motivos. Primeiro porque o queijo é realmente muito saboroso e segundo porque eu conheço a origem deste queijo, o que me deixa seguro – conta o consumidor alemão Rolff Médrich.

Em outra propriedade, o produtor Albert Trim também está rindo à toa. Na área de 115 hectares, são cultivados morangos, trigo, cevada e aspargos. Ainda tem espaço para a pecuária e para a produção de ovos. Aliás, para ganhar a confiança dos clientes, os ovos são rastreados. O carimbo indica o sistema de produção, origem e barracão das galinhas. Os consumidores podem, inclusive, fazer um tour pela fazenda.

– Ao mostrar in loco a produção conseguimos ganhar a confiança dos clientes. Tudo fica à disposição deles. Por exemplo, da janela do nosso café podemos observar onde o leite é produzido. Também buscamos trazer para cá grupos, principalmente de crianças de jovens, para que eles possam ver e sentir como é tirar o leite de uma vaca. Hoje o consumidor perdeu esta ligação com a origem do produto e queremos resgatar isso. Da mesma maneira fazemos com o campo de aspargos, que fica aos olhos do consumidor. Assim ele compra sabendo onde é produzido e como foi colhido e isso é ótimo – explica o produtor.

Outro exemplo de empresário criativo é o ex-criador de galinhas poedeiras de Theo Bieges. Cansado de ver a maior parte do lucro da atividade ficar com os vendedores, decidiu abrir o seu comércio. Com o negócio, a renda cresceu, mas seus investimentos estavam apenas começando.

Com o sucesso do comércio, o visionário produtor percebeu que tinha um rentável caminho pela frente. Ao invés de se contentar com os lucros certos da atividade varejista, decidiu ousar ainda mais. Hoje a venda é apenas mais uma atração no imenso projeto que ele criou, que busca proporcionar às pessoas que vivem na cidade, um pouco do gostinho do dia a dia na área rural.

Além do pequeno mercado, o produtor construiu um confortável restaurante e transformou o antigo depósito de feno em um espaço para o lazer das crianças. A diversão sai por 3,50 euros e é claro que não faltam tentações para ampliar esta conta.

– É a primeira vez que vim aqui e já achei o lugar sensacional para passar o dia, principalmente para quem tem filhos. As crianças se divertem e nós também, enquanto elas brincam nós fazemos compras. Hoje mesmo vamos comprar morangos, que estão frescos e acabaram de sair do campo de produção – relata o consumidor Rudolf Merleus.

Uma multidão visita o local. Por temporada, que vai de março ao fim de outubro, 150 mil pessoas passam pelo lugar. O produtor não revela os lucros anuais.

– O faturamento bruto não é importante. O que mais importa para mim é saber que o investimento que foi feito aqui se valorizou. Esta é a melhor maneira para ter certeza de que estou ganhando dinheiro. Também não é tão importante saber se faturei 100, 200 ou um milhão de euros, o importante é saber que meus filhos querem dar sequência a esta atividade que se tornou rentável – conclui o produtor que quer em breve inaugurar mais um empreendimento em outra fazenda da família.

Nesta sexta, dia 19, na reportagem da série Agropecuária no Velho Continente, nossos repórteres chegam à Itália e mostram uma das grandes preocupações dos produtores europeus: os baixos índices de sucessão familiar no campo.

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