quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Agropecuária no Velho Continente - Sistema produtivo do Brasil tem imagem negativa na Europa

Sistema produtivo do Brasil tem imagem negativa na Europa
País precisa vencer desafios que vão além da qualidade dos produtos

Luiz Patroni | Bruxelas (Bélgica)

Principal mercado das exportações agrícolas brasileiras, a União Européia é reconhecida por ser um consumidor exigente e que paga bem pelo que compra. Mas para ampliar as vendas ao bloco, que reúne 27 países, é preciso vencer desafios que vão além da qualidade dos produtos.

Na segunda reportagem da série Agropecuária no Velho Continente, os repórteres Luiz Patroni e Eduardo Viné Boldt chegam à Bélgica. Eles mostram que um dos principais desafios do Brasil é reverter a imagem negativa que ainda é atribuída ao nosso sistema de produção.

Na Bélgica há mais de 1,5 mil tipos de cervejas e ainda os melhores chocolates do mundo. O pequeno país, com mais de 11 milhões de habitantes, também é famoso por sua rica arquitetura. A bolsa de valores de Bruxelas, mais parece uma obra de arte. Se o assunto é beleza, espere até conhecer a grande praça central, onde estão reunidos gigantescos castelos seculares, alguns construídos há mais de 500 anos. O lugar é tão bonito que desde 1998 é considerado patrimônio mundial pela Unesco.


A cidade de Bruxelas é considerada a capital informal da União Européia, onde são realizadas as reuniões mais importantes, que definem as ações e o posicionamento adotado pelos 27 países que compõem o bloco. Também é onde o Brasil tem um representante com um papel difícil e ao mesmo tempo fundamental para a nossa agropecuária, de combater os ataques e defender os interesses comerciais do setor.

A embaixada é a base das operações de Odilson Luiz Ribeiro e Silva, o adido agrícola do Brasil na Europa. Há um ano na Bélgica, ele teve tempo suficiente para identificar o principal desafio da nossa agropecuária lá fora: reverter a imagem negativa que ainda é associada à produção brasileira.

– Esta imagem deturpada é produzida por interesses contrários às exportações brasileiras. E muitas vezes essas informações não são corretas, e há uma dificuldade de você colocar a informação correta na mídia e nos formadores de opinião aqui na Europa – relata o adido.

Segundo Odílson, a classe produtora européia vê o avanço das exportações brasileiras como uma ameaça.

– Nós estamos vivendo um momento de negociação entre a União Européia e Mercosul e a questão agrícola é uma questão central. Se você transmite informações errôneas para quem vai tomar a decisão de aprovação do acordo, que é o Parlamento Europeu, esse acordo corre risco de aprovação e talvez de alguma aprovação de áreas que talvez não sejam do interesse do Mercosul e da União Européia. Então seria importante trazermos informações fidedignas para quem vai tomar uma decisão, em cima de dados concretos da realidade agrícola Brasil-União Européia. Porque muitas vezes se toma uma decisão com informações que não são as mais corretas – complementa.

Segundo a embaixada brasileira, para mudar esta imagem e conquistar o exigente consumidor europeu, são necessárias ações agressivas de marketing e de valorização dos nossos produtos. A presença mais constante de agricultores do Brasil na Europa, como a comitiva do Paraná que visitou fazendas e empresas do setor, também é uma boa estratégia. No norte da Bélgica, onde existem 29mil propriedades rurais, o grupo se reuniu com lideranças do setor e deu um passo importante rumo ao fim deste pré-conceito.

– Sei que o Brasil é um país enorme e a algum tempo também achava que a maior liberação de produtos vindos de lá poderia nos prejudicar, mas encontrando pessoas, como fizemos agora, também muda a minha opinião. Eu acho que assim a gente aprende – conclui o presidente do Sindicato Geral Agricultores de Vlaanderen, na Bélgica, Guy Praetere.

Ao mesmo tempo em que os europeus conhecem aos poucos a realidade da agropecuária brasileira, também passamos a entender como eles lidam com alguns temas, como as exigências ambientais. É o que você vai ver amanhã na terceira reportagem da série Agropecuária no Velho Continente.

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