quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Agropecuária no Velho Continente - Produção de biogás divide opiniões na Alemanha

Produção de energia com biogás faz produtor rural europeu ampliar renda
Compromisso do governo alemão de fechar as usinas nucleares no país até 2022 abriu oportunidades para o homem do campo

Luiz Patroni | Overath (Alemanha)

O compromisso do governo alemão de fechar todas as usinas nucleares em atividade no país até 2022 abriu uma boa oportunidade para o homem do campo. Através da produção de energia com o biogás, produtores rurais ampliaram a renda e podem ter mais lucros. O problema é driblar os obstáculos impostos pela opinião pública, que ainda está dividida sobre o assunto. O mesmo acontece com a produção de alimentos transgênicos. Esta reportagem especial do Canal Rural faz parte da série Agropecuária no Velho Continente.

É no pequeno vilarejo, em Overath, no Oeste da Alemanha, que o produtor rural Sebastian Diez administra a fazenda de 300 hectares. O rebanho, que há uma década era de 130 cabeças, atualmente soma 200 cabeças. Só que os investimentos na compra de animais foram interrompidos há dois anos, quando o preço pago pelo leite recuou e tornou a expansão do plantel inviável. O agricultor decidiu apostar na produção de energia, instalou biodigestores e passou a fazer dinheiro com os dejetos, que antes só eram usados na adubação da lavoura de milho.


– Há uns seis anos eu já pensava em instalar os biodigestores. E em 2009 o governo começou a incentivar a produção de energia, dizendo que quanto mais dejetos fossem produzidos e destinados a isso, maior seria a garantia de preços. Com isso a atividade se tornou realmente rentável, e eu decidi investir sem medo, já que antes achava arriscado, pois os custos para implantação eram muito elevados – conta o produtor.

Para implantar o sistema o produtor gastou cerca de 1,5 milhão de euros. Um investimento alto, mas com o retorno garantido. Por ano a propriedade lucra algo em torno de 750 mil euros com a produção de energia, que já é responsável pela metade do faturamento anual da fazenda.

Cada kva (medida de potência elétrica) é negociado por 0,20 euros. Por ano a propriedade produz 4 milhões de kvas. Os vizinhos reclamam do odor e dos ruídos provocados pelos biodigestores. Também há preocupação com eventuais danos ao meio ambiente. A grande polêmica, porém, é quanto ao avanço dos cultivos para produção de biomassa. Diez passou a destinar parte do milho para o enriquecimento da matéria orgânica que vai para o biodigestor. Isso garante mais produção de gases e, consequentemente, de energia. Por isso, mesmo com o compromisso de fechamento de todas as usinas nucleares no país até 2022, a possibilidade de expansão do setor de energia renovável nos próximos anos pode enfrentar obstáculos.

– Este é um assunto bastante polêmico. Não se trata apenas de ser ou não rentável. A opinião pública não concorda com a conversão das áreas destinadas à produção de alimentos para a produção de energia. Quanto ao fim da energia atômica há duas opiniões. Uma é positiva, pois vamos acabar com o lixo atômico. A outra é que a energia produzida pelo biogás também traz problemas. Em 2012 devem ser criadas novas leis para este mercado de bioenergia – comenta Diez.

Outro assunto polêmico envolve os alimentos transgênicos. Uma empresa produz ração animal na Holanda. A matéria-prima é comprada de 50 países. O farelo de soja, por exemplo, é do Brasil. 95% de todo o farelo importado é geneticamente modificado. O chefe do Departamento de Qualidade da empresa, Wilco Engberts, explica que na alemanha, há forte resistência a este tipo de produto. Além disso, entre os principais clientes há uma grande rede de fast food que só aceita o uso de produtos naturais.

– Estou convencido de que o mercado vai funcionar como deve, isso quer dizer, enquanto houver uma procura por soja convencional, vai haver oferta. E esta procura vai traduzir-se em preços mais altos para o produtor. Sempre vai haver produtores que estão com disposição de produzir soja não transgênica. Hoje em dia o preço que se paga pela soja convencional é consideravelmente mais alto que o preço pago pela transgênica. Porém, esta procura pela soja não transgênica não está crescendo. O mercado continua muito igual – conclui Engberts.

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