quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Agropecuária no Velho Continente - Fruticultura é destaque na Itália

Itália investe no cooperativismo, tecnologia e apresentação final dos produtos agrícolas
Elevada qualidade garante aos produtores italianos o acesso a exigentes mercados, como a Alemanha
Luiz Patroni | Bolonha (Itália)
A produção de frutas e hortaliças na Itália é destaque em todo o mundo. A série de reportagens do Canal Rural sobre a agropecuária na Europa visitou o país e revelou que a elevada qualidade garante aos produtores italianos o acesso a exigentes mercados compradores, como, por exemplo, a Alemanha. Mas, para isso, é preciso investir no cooperativismo, no avanço da tecnologia no campo e também na apresentação final dos produtos.

Na faculdade de Agronomia da Universidade de Bolonha, especialistas discutem os caminhos a serem seguidos pelo setor. Como a atividade na Itália é tipicamente desenvolvida em pequenas propriedades, com seis hectares em média, a união dos produtores é essencial. O diretor do Centro de Serviço de Hortaliças e Frutas, entidade que reúne 54 organizações de produtores, sindicatos e cooperativas, explica que as parcerias facilitam e melhoram as relações entre fornecedores e compradores.

– Não temos grandes problemas entre os associados, já que todos têm o mesmo objetivo que é trabalhar bem e ganhar mais. O Centro de Hortaliças e Frutas também facilita isso. Organizamos feiras no mundo inteiro e ajudamos a manter a melhor organização possível entre todos os associados – explica o diretor da entidade, Luciano Trentini.

Segundo os especialistas, é preciso dedicar atenção especial para o que os consumidores desejam. Neste momento, isso significa buscar a sustentabilidade social, econômica e principalmente ambiental. Por isso, o setor quer desenvolver cultivares mais produtivas, ampliar a tecnologia no campo e modernizar as técnicas de cultivo.

– O mais importante é a contínua busca para conhecer o comportamento do mercado. Nós exportamos muito para o norte da Europa, um mercado que sempre está mais exigente. Para continuar atendendo estes consumidores precisamos desenvolver novas variedades, que não precisam necessariamente produzir mais, e sim ter uma qualidade melhor, ser diferenciada –, comenta o diretor-presidente do Centro de Pesquisas em Produções Vegetais, Gianpiero Reggidori.

No Centro de Pesquisas em Produções Vegetais, vistosos parreirais indicam apenas algumas das linhas de estudo. A entidade também representa diversas organizações de produtores e direciona as pesquisas em função das demandas que surgem no campo.

O resultado destas iniciativas pode ser visto na entrega das frutas. Na classificação dos produtos, as frutas são separadas por tamanho, cor e peso. Só vão para o mercado se atenderem às exigências estabelecidas.– A segurança alimentar é uma prioridade para nós. Como nossos números são grandes, elaboramos uma organização bem complexa, que começa lá no campo. Temos 40 técnicos que realizam muitos controles na produção e fornecem assistência técnica para os produtores, recomendando as melhores cultivares e as melhores técnicas agronômicas. Assim, vamos receber produtos com padrão de qualidade muito alto. Dentro da cooperativa, o controle continua. Temos amostragem desde a chegada do produto, durante a fase de armazenamento, até a fase de comercialização – explicou o representante da Cooperativa Agrintesa, Mauro Pazzaglia.

O objetivo de tudo isso é conquistar a confiança do consumidor. E é na hora da venda, que o esforço faz a diferença. No centro agroalimentar de Bolonha, 22 grandes atacadistas comercializam a produção. Pequenos produtores também têm espaço para vender. No local, armazenamento e logística funcionam com eficiência, e garantem baixo índice de perdas anuais: cerca 0,5%. No Brasil, chegam a até 20% em alguns estabelecimentos.



O comerciante Massimo Venturoli, durante os 20 anos que trabalha no centro agroalimentar, percebeu que o importante é acompanhar a demanda do consumidor.

– Eu trabalho aqui há 20 anos e, neste tempo, os costumes dos consumidores mudaram. Eles ficaram mais sérios, mais especializados. Eles buscam qualidade padronizada e baixo custo – revela o comerciante – relata.

Esta conscientização dos vendedores também é retratada nas ações elaboradas pelo setor para ampliar as vendas.

– Há cerca de 20 anos, 80% dos produtos eram armazenados em caixas de madeira. Só que, com o passar do tempo, os comerciantes e empresários entenderam que as embalagens representavam uma peça chave na hora da comercialização e adotaram uma estratégia: atrair a atenção, e, depois, o bolso dos clientes – diz Massimo.

O diretor do Centro Agroalimentar de Bolonha, Roberto Piazza, destaca que a embalagem é um requisito fundamental.

– Além de ser mais bonito e esteticamente atraente, você ainda tem possibilidade de escrever ou indicar muitas informações a respeito do que está dentro desta embalagem – afirma Piazza.

O diretor do centro agroalimentar acredita que os produtos brasileiros vendidos na Europa são perfeitamente embalados. Mas no que diz respeito ao mercado interno, Piazza acredita que há muito a melhorar no Brasil.

– Visitei o mercado de Curitiba e encontrei produtos muito belos e muito bons, mas mal comercializados. Há pouco marketing e estratégia de venda. Acho que é preciso aprimorar isso – conclui o italiano.

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