quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Agropecuária no Velho Continente





Na primeira quinzena de junho de 2011 enfrentei o maior desafio profissional e também a maior oportunidade de minha (ainda breve) carreira jornalística. Ao lado do repórter cinematográfico Eduardo Viné Boldt acompanhei um grupo de produtores rurais, técnicos e especialistas de diferentes áreas de atuação, que realizou uma viagem técnica à Europa, o Velho Continente. No extenso roteiro, visitas a fazendas, centros de pesquisa, universidades, porto e centros de comercialização em cinco países: França, Bélgica, Holanda, Alemanha e Itália. Uma chance incrível de conhecer, aprender e mostrar ao público um pouquinho desta fantástica experiência. O resultado foi a série de reportagens "Agropecuária no Velho Continente", exibida enter 14 e 21 de agosto nos telejornais do Canal Rural. Ao todo são 14 reportagens, que estão postadas neste blog. Acompanhe!

Luiz Patroni


Agropecuária no Velho Continente - Chamada


Canal Rural apresenta série de reportagens especiais sobre a agropecuária no Velho Continente

Durante esta semana, O Canal Rural leva você a uma viagem de descobertas com a Série Especial Agropecuária no Velho Continente que apresenta as características da produção agropecuária na Europa.
O repórter Luiz Patroni e o cinegrafista Eduardo Viné Boldt realizaram uma viagem incrível para conhecer os obstáculos e benefícios da realidade agropecuária europeia, e para descobrir o que os europeus realmente sabem sobre o Brasil. O objetivo é mostrar as características da produção rural na Europa, além de saber como vivem e o que pensam os produtores da França, Bélgica, Holanda, Alemanha e Itália. 
Entre os temas abordados estão a tecnologia avançada e logística de ponta usados na atividade rural do Velho Continente, os subsídios que garantem permanência do homem no campo, a logística diferenciada que oferece vantagem competitiva a favor dos produtores europeus, a ordenha robotizada como alternativa ao altos custos da mão de obra na Bélgica, entre outros. 
Assista!


Agropecuária no Velho Continente - Características do sistema de produção francês

Tecnologia avançada e logística de ponta marcam atividade rural desenvolvida na Europa

Luiz Patroni | Beauvais (França)

Áreas menores, temperaturas baixas, tecnologia avançada e logística de ponta são algumas das diferenças básicas entre a atividade rural na Europa e a que é praticada no Brasil. Mas apesar dos pontos distintos, quando o assunto é a busca por melhores preços e mais espaço no mercado internacional as semelhanças aparecem.

Aos olhos dos viajantes, cada detalhe da arquitetura fica guardado na memória. Seja com o auxílio das modernas câmeras fotográficas ou pelas mãos que eternizam a paisagem capturada pelo artista anônimo, tudo chama a atenção.

Impossível falar da França sem lembrar de Paris. A capital que recebe mais de 26 milhões de turistas todos os anos, realmente pode ser considerada um sinônimo de charme e encanto. Da imponente Torre Eiffel ao simbólico Arco do Triunfo. Da arborizada avenida Champs Elyssés ao passeio mágico pelas águas do Rio Sena a bordo do Bateau Mouche.

Mas as atrações não se restringem ao que a cidade luz tem a oferecer. O país também se destaca na agropecuária. É o principal produtor e exportador de grãos da União Européia. Cerca de 500 mil agricultores desenvolvem atividades em pequenas propriedades, que têm em média entre 65 e 140 hectares. O trigo está presente na maioria delas. São mais de 5 milhões de hectares.

O solo fértil garante uma produtividade elevada que supera os 8 mil e pode chegar a 13 mil quilos por hectare. Os franceses também investem em outras plantações, como cevada, ervilha e fava, uma leguminosa parecida com o nosso feijão. Foi o que conferimos em Beuvais, a 100 quilômetros ao norte de Paris.


Em uma propriedade, a visível diversificação de culturas exemplifica bem o modelo de produção adotado pelos franceses. Só que, neste caso, o plantio em pequenas parcelas também tem outro motivo: a fazenda é uma das parceiras da Câmara de Agricultura do país. Em parte de suas terras é cultivado um campo experimental, que serve de vitrine para outros agricultores da região.
Assim como no Brasil, a busca pela otimização da área rural e pelo aumento da produtividade, são objetivos na França. Como as propriedades são pequenas, o avanço da produção depende exclusivamente do melhor rendimento do conjunto sementes, solo, nutrientes, recursos hídricos.
Encurtar a distância entre as novas tecnologias e o homem do campo é a missão das Câmaras de Agricultura. Ligadas a Federação Nacional do setor,  firmam parcerias com fazendeiros que cedem espaço para que os novos produtos sejam testados.
– A gente está trazendo o produto da pesquisa para os agricultores. Estamos adaptando estes resultados a uma aplicação real. É difícil medir a consequência positiva deste trabalho. Neste campo estamos há mais de cinco anos. E antes estávamos trabalhando com outros agricultores, isso pertence ao nosso método de divulgação. É difícil de medir qual a influência que pode ter sobre a produção. Mas pelo que a gente vê, aqui a produção agrícola é alta – relata o agrônomo da Câmara de Agricultura Beauvais, Christian Dersigny.
Se o representante da Câmara não consegue dimensionar o tamanho da contribuição, o dono da fazenda que abriga os trabalhos não tem dúvidas. Na agricultura desde 1996, Philippe Lambert sabe que o segredo para sobreviver na atividade é a sustentabilidade econômica, social e ambiental.
– Este trabalho é importante. Quanto ao nível ambiental vou saber quais são as culturas que vão aproveitar melhor a terra sem explorar demais o solo. Ao mesmo tempo vai haver este equilíbrio de tipo de plantação. Também poderei saber quais culturas trarão maior benefício financeiro. Tudo isso respeitando a agricultura tradicional da região. Ou seja, terei várias informações que vão me ajudar a plantar o que se planta na região com melhores rendimentos e saber quais os principais benefícios cada cultura poderá me dar – conta o produtor.
Os franceses precisam ser muito eficientes no campo, a cada dia, fica mais difícil resistir à elevada pressão que as cidades exercem sobre as áreas rurais. Só no departamento de Oise, na região da Picardia, a agricultura perde 800 hectares por ano para a urbanização.
Por isso a política de valorizar aqueles que ainda retiram o alimento da terra tem papel essencial. É aqui que entram em cena os polêmicos subsídios, auxílios financeiros concedidos aos produtores em troca ou não do cumprimento de normas estabelecidas pelo governo.
– Eu não conseguiria permanecer na atividade se não houvesse esta ajuda. O subsídio é maior do que meu lucro anual – ressalta o produtor rural Didier Verbeke.

Agropecuária no Velho Continente - Subsídios garantem permanência no campo

Subsídios na França garantem permanência do homem no campo
São US$ 50 bilhões gastos com a concessão de subsídios aos produtores rurais

Luiz Patroni | Beauvais (França)

Todos os anos metade do orçamento da União Européia é destinada ao setor agrícola. São US$ 50 bilhões gastos com a concessão de subsídios aos produtores rurais. A ação é uma das medidas que diferenciam a atividade rural do bloco da que é desenvolvida no Brasil.

A partir desta segunda, dia 15, o Rural Notícias exibe uma série de reportagens que mostra as características da produção agropecuária no Velho Continente. Na primeira reportagem, Luiz Patroni e Eduardo Viné Boldt mostram que para os franceses os subsídios significam a garantia de permanência do homem no campo.

Viajar pela França é garantia de encontrar belas paisagens e muitas histórias. Em alguns lugares, o passado ainda parece estar vivo. As construções antigas e o fraco movimento nas ruas de Beauvais, a 100 quilômetros de Paris, são exemplos disso. Ao lado do asfalto, paredes envelhecidas guardam as tristes lembranças do pequeno município que um dia quase foi riscado do mapa.


Durante a Segunda Guerra Mundial a cidade de Beauvais foi intensamente bombardeada pelas tropas militares. Os ataques destruíram 80% das construções e também arrasaram os campos agrícolas. Milhares de pessoas deixaram o local. Com o passar dos anos e com o apoio de imigrantes europeus que mudaram para a cidade, ela se reergueu. O campo se fortaleceu e passou a contribuir para que a região se transformasse em um dos destaques agrícolas da frança.

É no norte do país que está concentrada a maioria das plantações de grãos e cereais. Também há espaço para pecuária, reflorestamento e preservação de áreas verdes.

Em uma típica fazenda, onde são produzidos grãos e carne, o produtor rural Didier Verbeke cria galinhas do pescoço-pelado, que são comercializadas na comunidade. No restante da área de 115 hectares, planta lavouras e pasto para alimentar o gado de corte. São 70 cabeças. Durante o ano, o rebanho passa sete meses no campo. E fica confinado nos outros cinco, que são mais frios e secos.

O produtor vende os animais ainda jovens para o frigorífico. Em geral vão para o abate com seis meses, pesando 350 quilos. O preço da arroba é quatro vezes maior que o pago no Brasil - R$ 380 - e a pecuária ainda garante outros lucros. Para cada bezerro nascido, didier recebe 250 euros - ou R$ 580, de subsídio do governo.

– Este auxílio que recebemos é muito importante. Sem ele eu não conseguiria permanecer na atividade. O subsídio é maior do que meu lucro anual – relata o produtor.

A concessão da ajuda contribui para manter os produtores no campo e evita a necessidade de ampliar as importações de alimento. Todos os anos são distribuídos 10 bilhões de euros em subsídios agrícolas na França, segundo o Ministério da Agricultura e Pesca.

Para ter acesso ao dinheiro, são estabelecidas algumas normas, que variam de acordo com a linha de crédito. Uma delas exige a utilização de 3% da área para a produção de ativos ambientais, como plantio de florestas por exemplo. Quanto ao apoio à comercialização, as lideranças do setor desconversam.

– Os subsídios agrícolas são importantes, mas os produtores vivem do que produzem. As subvenções vem mais para ajudar a problemas externos, como por exemplo, os climáticos, causados por doenças, e as ajudas vem para ajudar a complementar. Mas os produtores vivem daquilo que produzem e do que vendem. E desde 1992 os preços são fixados e os produtores vivem do que produzem e do que vendem – relata o diretor adjunto Câmara de Agricultura de Oise-França, Laurent Mingan.

O economista da secretaria de Agricultura do Paraná, Francisco Carlos Simioni, discorda. Para ele, os subsídios interferem sim nas relações comerciais.

– O produtor europeu tem uma proteção e ela que faz com que ele seja diferente do nosso produtor no Brasil, a garantia de comercialização, a garantia de colocação do produto dele no mercado. Seja no mercado interno, seja no mercado externo. Mas se os brasileiros recebessem subsídios como eles, seria diferente, não tenho dúvidas que seria, porque o subsídio aqui é muito pesado, pode chegar aí acima de 40%. O que realmente é um índice muito favorável e dá uma condição extraordinária no processo de comercialização – relata.

Antes de deixar a França, a equipe perguntou ao produtor Didier Verbeke se ele conhece a realidade da agropecuária brasileira e se sabe que - mesmo sem subsídios - os nossos produtores precisam preservar entre 20 e 80% da fazenda para reserva legal.

– Eu não conheço o Brasil, mas ouço dizer que as propriedades são enormes. Sei que em algumas regiões, como no Paraná, as propriedades são pequenas. Se eu tivesse uma grande propriedade compreenderia a necessidade de destinar uma parte para o plantio de árvores. Vivo numa região arborizada em que não há esta necessidade, mas não sou contra este tipo de imposição – diz.

Na reportagem desta terça, dia 16, vamos à Bélgica, onde você vai ver que mesmo sem conhecer a agropecuária brasileira, muitos europeus criticam e distorcem a imagem do nosso sistema de produção. Reverter este quadro é um dos maiores desafios do setor.

Agropecuária no Velho Continente - Logística diferenciada na Europa facilita exportação

Logística diferenciada é vantagem competitiva a favor dos produtores europeus
Além das excelentes rodovias e ferrovias, homem do campo tem à disposição portos estruturados, como o porto de Roterdã, na Holanda

Luiz Patroni | Roterdã (Holanda)

A logística diferenciada é uma das grandes vantagens competitivas a favor dos produtores europeus. Além das excelentes rodovias e ferrovias, o homem do campo tem à disposição portos estruturados e gigantescos, onde a eficiência é sinônimo de qualidade. Nesta reportagem da série Agropecuária no Velho Continente, o Canal Rural apresenta o porto de Roterdã, na Holanda, um dos maiores e mais importantes do mundo.

Um lugar moderno, com arquitetura e logística que impressionam. A segunda maior cidade da Holanda, foi praticamente destruída na Segunda Guerra Mundial, o que atualmente é difícil de acreditar. Um monumento em homenagem aos soldados mortos mantém vivo esse capítulo da história. Mas do passado, restaram apenas as lembranças. O trânsito organizado tem largas avenidas, os moradores podem escolher entre os eficientes bondes elétricos ou as saudáveis bicicletas.


Outra opção são as embarcações, que a todo instante cruzam o rio. O complexo portuário, sede de várias empresas e refinarias, fica localizado a 40km da área central. O terminal de cargas indica que se trata de um dos maiores portos do mundo. A estrutura, que se estende por 40 mil hectares, recebe os maiores navios cargueiros do planeta. Cerca de 11 milhões são embarcados ou desembarcados em Roterdã todos os anos, 10% saem do brasil. Tudo funciona em uma sincronia perfeita, com agilidade e eficiência que não permitem comparações com os portos do Brasil.

– O porto de Roterdã não tem comparação com os portos do Brasil. A gente vê os nossos portos totalmente diferentes. Aqui, por exemplo, para comparar, nós não vemos filas de caminhões para carregar. E ao contrário, nos portos do Brasil, Paranaguá (PR), por exemplo, tem filas quilométricas. Filas que às vezes vão até Campo Largo (PR), o que é um absurdo. Então, a gente fica muito impressionado com esta eficiência e competência dos administradores dos portos – afirma o presidente do Sindicato Rural de Rolândia (PR), Daniel Rosental.

De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Clevelândia (PR), Derossi de Jesus Pacheco Carneiro, a Holanda, principalmente Roterdã, tem a maior logística do mundo.

– Isso pode ser percebido pelo volume de cargas, 2 bilhões de dólares vão ser investidos para dar continuidade dos portos daqui. Se nós, brasileiros, não temos competência, não temos esta habilidade para fazer com que os nossos portos sejam mais eficientes, porque nós não fazemos o que é feito aqui? Terceirizando os portos, e passando a ter portos de alta qualidade e portos que sejam eficientes, que tenham alta economia e que beneficiem nosso país.

Navegando pelas águas que dão vida ao porto de Roterdã é impossível não ficar admirado com o tamanho do verdadeiro símbolo de eficiência em logística. Mais impressionante ainda é saber que, apesar de gigante, o porto já está ficando pequeno para atender a demanda que não para de crescer. Para evitar problemas no futuro, os holandeses deram início há três anos às obras de ampliação da estrutura portuária. O objetivo é elevar em pelo menos 70% a capacidade de transportar cargas no local.

Os holandeses querem que em duas décadas, o número de cargas que passam pelo local anualmente, salte de 430 milhões de toneladas para 750 milhões. Para aumentar a área em 20%, vai ser necessário construir terra onde atualmente só existe água. O mar está sendo aterrado, 170 milhões de metros cúbicos de areia já foram retirados do oceano. Até 2031, quando a obra deve estar concluída, serão removidos mais 130 milhões de metros cúbicos.

Segundo o guia do porto de Roterdã, Aord Korzilius, os holandeses sempre fizeram isso com a água.

– É nossa obrigação nos protegermos das forças do mar. A construção de diques e barreiras contra a água é algo que fazemos há centenas de anos. Os primeiros construtores de diques que nós temos conhecimento, eram daqui da zona de Roterdã. Eles já construíam diques por volta do ano 1300. Isso mostra que nós desenvolvemos uma técnica, que agora pode e é exportada para todo o mundo – comenta Korzilius.

O custo total da obra é estimado em 3 bilhões de euros. Antes de ser colocado em prática o projeto ficou duas décadas em estudo. Além da viabilidade, os impactos ambientais também foram levados em conta. Haverá compensação com a construção de parques verdes. Mas para o diretor-presidente do Instituto Ambiental do Paraná, Luiz Tarcísio Mossato Pinto, o retorno ecológico será pequeno diante dos danos causados ao meio ambiente.

Agropecuária no Velho Continente - Homem do campo encontra na tecnologia um aliado

Ordenha robotizada é alternativa para evitar altos custos da mão de obra europeia na Bélgica
As vacas, quando sentem que o úbere está cheio, caminham até a máquina, que faz sozinha a retirada do leite

Luiz Patroni | Ninove (Bélgica)

Elevados custos da mão de obra comprometem a rentabilidade dos produtores europeus. A série de reportagens do Canal Rural sobre a agropecuária no Velho Continente descobriu que, na Bélgica, para contratar um trabalhador rural, o produtor precisa gastar até R$ 70 por hora de serviço. Para driblar este obstáculo, o homem do campo busca maneiras de tocar sozinho a atividade, e encontra na tecnologia um grande aliado.

No pequeno vilarejo de Ninove, a 30 quilômetros de Bruxelas, os agropecuaristas Linda e Hendrik Van den Haute mantêm uma propriedade de 90 hectares. Parte da área é destinada à agricultura, mas o foco principal é a pecuária de leite. O rebanho de corte soma 130 animais. Confinados, nunca vão para o pasto. O produtor compra bezerros de seis meses de idade, com peso médio de 200 quilos. Com dois anos, atingem até 800 quilos e estão prontos para o abate.

Para administrar o seu rebanho, os Van den Haute adquiriram uma ordenhadeira robotizada, que faz sozinha a retirada do leite. As vacas ficam soltas no salão e, quando sentem que o úbere está cheio, caminham até a máquina. Todas possuem colares que guardam pequenos chips de identificação. Na central do equipamento, estão registradas informações sobre cada animal: desde a idade e o peso, até a distância entre as tetas. Quando a vaca entra no espaço da ordenha é identificada automaticamente, e o processo de retirada do leite é iniciado. O volume produzido e o número de vezes que o animal passa pelo equipamento também são registrados.

Para implantar o sistema, Van den Haut gastou 120 mil euros, o equivalente a R$ 280 mil. Se contratasse funcionários, o produtor teria que desembolsar entre 22 e 30 euros por hora de serviço. O custo mensal de um trabalhador chegaria a até 7200 euros, valor bem maior do que a despesa anual com a manutenção do equipamento, que não passa de 4 mil euros.

– A ordenha robotizada trouxe muitos benefícios. Diante do elevado custo da mão de obra, ela gera muita economia para mim. Além disso, tenho mais flexibilidade de tempo e, de certa maneira, as vacas também – contou Van den Haut.

A modernidade e a eficiência do sistema chamaram a atenção do produtor de leite paranaense Sérgio Spinardi.

– Chama atenção, porque, na verdade, é um sistema de ordenha diferente, onde elimina bastante a mão de obra, principalmente na Bélgica, onde o valor da mão de obra é muito alto. Talvez em função disto que, no Brasil, ainda não tenha um robô, porque a mão de obra é mais barata – declarou o pecuarista.

Agropecuária no Velho Continente - Sistema produtivo do Brasil tem imagem negativa na Europa

Sistema produtivo do Brasil tem imagem negativa na Europa
País precisa vencer desafios que vão além da qualidade dos produtos

Luiz Patroni | Bruxelas (Bélgica)

Principal mercado das exportações agrícolas brasileiras, a União Européia é reconhecida por ser um consumidor exigente e que paga bem pelo que compra. Mas para ampliar as vendas ao bloco, que reúne 27 países, é preciso vencer desafios que vão além da qualidade dos produtos.

Na segunda reportagem da série Agropecuária no Velho Continente, os repórteres Luiz Patroni e Eduardo Viné Boldt chegam à Bélgica. Eles mostram que um dos principais desafios do Brasil é reverter a imagem negativa que ainda é atribuída ao nosso sistema de produção.

Na Bélgica há mais de 1,5 mil tipos de cervejas e ainda os melhores chocolates do mundo. O pequeno país, com mais de 11 milhões de habitantes, também é famoso por sua rica arquitetura. A bolsa de valores de Bruxelas, mais parece uma obra de arte. Se o assunto é beleza, espere até conhecer a grande praça central, onde estão reunidos gigantescos castelos seculares, alguns construídos há mais de 500 anos. O lugar é tão bonito que desde 1998 é considerado patrimônio mundial pela Unesco.


A cidade de Bruxelas é considerada a capital informal da União Européia, onde são realizadas as reuniões mais importantes, que definem as ações e o posicionamento adotado pelos 27 países que compõem o bloco. Também é onde o Brasil tem um representante com um papel difícil e ao mesmo tempo fundamental para a nossa agropecuária, de combater os ataques e defender os interesses comerciais do setor.

A embaixada é a base das operações de Odilson Luiz Ribeiro e Silva, o adido agrícola do Brasil na Europa. Há um ano na Bélgica, ele teve tempo suficiente para identificar o principal desafio da nossa agropecuária lá fora: reverter a imagem negativa que ainda é associada à produção brasileira.

– Esta imagem deturpada é produzida por interesses contrários às exportações brasileiras. E muitas vezes essas informações não são corretas, e há uma dificuldade de você colocar a informação correta na mídia e nos formadores de opinião aqui na Europa – relata o adido.

Segundo Odílson, a classe produtora européia vê o avanço das exportações brasileiras como uma ameaça.

– Nós estamos vivendo um momento de negociação entre a União Européia e Mercosul e a questão agrícola é uma questão central. Se você transmite informações errôneas para quem vai tomar a decisão de aprovação do acordo, que é o Parlamento Europeu, esse acordo corre risco de aprovação e talvez de alguma aprovação de áreas que talvez não sejam do interesse do Mercosul e da União Européia. Então seria importante trazermos informações fidedignas para quem vai tomar uma decisão, em cima de dados concretos da realidade agrícola Brasil-União Européia. Porque muitas vezes se toma uma decisão com informações que não são as mais corretas – complementa.

Segundo a embaixada brasileira, para mudar esta imagem e conquistar o exigente consumidor europeu, são necessárias ações agressivas de marketing e de valorização dos nossos produtos. A presença mais constante de agricultores do Brasil na Europa, como a comitiva do Paraná que visitou fazendas e empresas do setor, também é uma boa estratégia. No norte da Bélgica, onde existem 29mil propriedades rurais, o grupo se reuniu com lideranças do setor e deu um passo importante rumo ao fim deste pré-conceito.

– Sei que o Brasil é um país enorme e a algum tempo também achava que a maior liberação de produtos vindos de lá poderia nos prejudicar, mas encontrando pessoas, como fizemos agora, também muda a minha opinião. Eu acho que assim a gente aprende – conclui o presidente do Sindicato Geral Agricultores de Vlaanderen, na Bélgica, Guy Praetere.

Ao mesmo tempo em que os europeus conhecem aos poucos a realidade da agropecuária brasileira, também passamos a entender como eles lidam com alguns temas, como as exigências ambientais. É o que você vai ver amanhã na terceira reportagem da série Agropecuária no Velho Continente.

Agropecuária no Velho Continente - Produção de biogás divide opiniões na Alemanha

Produção de energia com biogás faz produtor rural europeu ampliar renda
Compromisso do governo alemão de fechar as usinas nucleares no país até 2022 abriu oportunidades para o homem do campo

Luiz Patroni | Overath (Alemanha)

O compromisso do governo alemão de fechar todas as usinas nucleares em atividade no país até 2022 abriu uma boa oportunidade para o homem do campo. Através da produção de energia com o biogás, produtores rurais ampliaram a renda e podem ter mais lucros. O problema é driblar os obstáculos impostos pela opinião pública, que ainda está dividida sobre o assunto. O mesmo acontece com a produção de alimentos transgênicos. Esta reportagem especial do Canal Rural faz parte da série Agropecuária no Velho Continente.

É no pequeno vilarejo, em Overath, no Oeste da Alemanha, que o produtor rural Sebastian Diez administra a fazenda de 300 hectares. O rebanho, que há uma década era de 130 cabeças, atualmente soma 200 cabeças. Só que os investimentos na compra de animais foram interrompidos há dois anos, quando o preço pago pelo leite recuou e tornou a expansão do plantel inviável. O agricultor decidiu apostar na produção de energia, instalou biodigestores e passou a fazer dinheiro com os dejetos, que antes só eram usados na adubação da lavoura de milho.


– Há uns seis anos eu já pensava em instalar os biodigestores. E em 2009 o governo começou a incentivar a produção de energia, dizendo que quanto mais dejetos fossem produzidos e destinados a isso, maior seria a garantia de preços. Com isso a atividade se tornou realmente rentável, e eu decidi investir sem medo, já que antes achava arriscado, pois os custos para implantação eram muito elevados – conta o produtor.

Para implantar o sistema o produtor gastou cerca de 1,5 milhão de euros. Um investimento alto, mas com o retorno garantido. Por ano a propriedade lucra algo em torno de 750 mil euros com a produção de energia, que já é responsável pela metade do faturamento anual da fazenda.

Cada kva (medida de potência elétrica) é negociado por 0,20 euros. Por ano a propriedade produz 4 milhões de kvas. Os vizinhos reclamam do odor e dos ruídos provocados pelos biodigestores. Também há preocupação com eventuais danos ao meio ambiente. A grande polêmica, porém, é quanto ao avanço dos cultivos para produção de biomassa. Diez passou a destinar parte do milho para o enriquecimento da matéria orgânica que vai para o biodigestor. Isso garante mais produção de gases e, consequentemente, de energia. Por isso, mesmo com o compromisso de fechamento de todas as usinas nucleares no país até 2022, a possibilidade de expansão do setor de energia renovável nos próximos anos pode enfrentar obstáculos.

– Este é um assunto bastante polêmico. Não se trata apenas de ser ou não rentável. A opinião pública não concorda com a conversão das áreas destinadas à produção de alimentos para a produção de energia. Quanto ao fim da energia atômica há duas opiniões. Uma é positiva, pois vamos acabar com o lixo atômico. A outra é que a energia produzida pelo biogás também traz problemas. Em 2012 devem ser criadas novas leis para este mercado de bioenergia – comenta Diez.

Outro assunto polêmico envolve os alimentos transgênicos. Uma empresa produz ração animal na Holanda. A matéria-prima é comprada de 50 países. O farelo de soja, por exemplo, é do Brasil. 95% de todo o farelo importado é geneticamente modificado. O chefe do Departamento de Qualidade da empresa, Wilco Engberts, explica que na alemanha, há forte resistência a este tipo de produto. Além disso, entre os principais clientes há uma grande rede de fast food que só aceita o uso de produtos naturais.

– Estou convencido de que o mercado vai funcionar como deve, isso quer dizer, enquanto houver uma procura por soja convencional, vai haver oferta. E esta procura vai traduzir-se em preços mais altos para o produtor. Sempre vai haver produtores que estão com disposição de produzir soja não transgênica. Hoje em dia o preço que se paga pela soja convencional é consideravelmente mais alto que o preço pago pela transgênica. Porém, esta procura pela soja não transgênica não está crescendo. O mercado continua muito igual – conclui Engberts.

Agropecuária no Velho Continente - Tecnologia rural é destaque na Holanda

Tecnologias aplicadas ao gado em confinamento e à agricultura é destaque na Holanda
Série de reportagens do Canal Rural na Europa visita o país referência na utilização de estufas na agricultura

Luiz Patroni | Bleiswijk (Holanda)

Depois de conhecer a tecnologia empregada nos campos da França e da Bélgica, o Canal Rural, através de uma série de reportagens especiais sobre a agropecuária na Europa, chega à Holanda para mostrar que o país também se destaca nos avanços científicos.

Conhecida como Países Baixos, a Holanda tem quase metade de seu território abaixo do nível do mar. Por isso, a água está sempre presente nas paisagens urbanas e rurais. É comum encontrar antigos moinhos, que caracterizam a região; e cata-ventos, que produzem energia eólica. Contudo, as grandes estrelas da Holanda são as vacas leiteiras.

Com o objetivo respeitar as exigências ambientais, o número de animais por propriedade é limitado pelo governo. O tamanho do rebanho é definido pela quantidade de matéria orgânica produzida e o destino dado aos dejetos. Encontrar alternativas para ampliar o plantel sem prejudicar a natureza é uma das missões de estudiosos.

– Em geral, podemos dizer que as exigências ambientais estão dificultando o dia a dia dos produtores. É claro que trazem certos problemas, mas o segredo é transformar esses problemas em desafios, em novas chances de comercialização. A nossa tarefa é de procurar e explorar estas oportunidades – ressalta o pesquisador em Pecuária da Universidade de Wageningen, em Lelystad, Harm Wemmenhove.

As pesquisas desenvolvidas no país são variadas. Vão da alimentação dos animais à transformação dos dejetos em energia, através do biogás. Um dos estudos avalia a interferência do piso dos confinamentos na saúde e produtividade das vacas leiteiras, além de medir a emissão de gases poluentes.

– A maior parte dos criadores holandeses, de 70 a 80%, alimentam o gado no pasto no verão. No inverno, os animais permanecem em estábulos. Mas os criadores estão muito interessados nesta tecnologia do piso, que limita bastante a emissão de gases malignos para a atmosfera, porque – tanto para o bem-estar animal, como também para obedecer as leis de meio ambiente – mais cedo ou mais tarde vamos precisar deste tipo de solução – completa o cientista.

A tecnologia chamou a atenção do pecuarista brasileiro Carlos Malinski. Ele começou a investir na pecuária leiteira, em 2010, e ficou surpreso com os estudos direcionados ao confinamento.

– É um sistema em que eles ganham em espaço físico, que é o problema deles; e gera bastante adubo orgânico, transformando em biogás – afirmou Malinski

Mas a tecnologia na Holanda ultrapassa a pecuária. A Universidade de Wageningen também desenvolve pesquisas na produção de alimentos e flores em estufas, que é condição básica para o desenvolvimento da horticultura no país, já que as temperaturas são muito baixas. A Holanda é, hoje, referência nesse modelo de produção, que ocupa cerca de 11 mil hectares no país.

Todos os anos são investidos 350 milhões de euros na construção de novas estufas na Holanda. Para dar suporte aos quase seis mil produtores, a ciência tenta avançar ainda mais em temas como adubação, sanidade e aproveitamento da luz solar para reduzir o consumo de energia. Alguns tomateiros chegam a atingir 15 metros de altura e produzem anualmente 60 quilos por metro quadrado, ou seja, 600 toneladas por hectare.

– O custo de produção hortícula na Holanda é muito alto. Por isso, o produtor holandês e a horticultura holandesa devem virar-se para produtos de alta qualidade, que forneçam a nichos de mercado. Não um produto de massa, mas produtos especializados para agradar e satisfazer cada nicho de mercado – comenta o pesquisador em Ciências Econômicas, Marc Ruijs.

E já que os holandeses são referência na produção em estufas, deixam uma dica para o avanço desta técnica no Brasil.

– Talvez uma boa dica seja olhar para a indústria hortícula na Holanda, não para o nível tecnológico atual, mas para como ele se desenvolveu nos últimos 10 anos. Há muitos exemplos desta fase de desenvolvimento que podem inspirar o horticultor brasileiro – diz Marc Ruijs.

O produtor paranaense de hortaliças, Maurício Valenga, observou, anotou informações e fotografou as novidades das estufas holandesas. Ficou impressionado com o que viu, mas, diante dos elevados custos para implantar o sistema, que variam de 80 a 150 euros por metro quadrado, concluiu que, hoje, o investimento é inviável no Brasil. Além do alto custo, a concorrência também seria um obstáculo.

– Poderia ser uma aposta. Seria uma vantagem desde que não houvesse a procedência de produtos de outros Estados, porque não há uma garantia de preços – afirmou Valenga.

Agropecuária no Velho Continente - Brasil tem mais exigências ambientais que Europa

Brasil tem mais exigências ambientais do que a Europa
Em Amsterdam, 100% da propriedade é utilizada na agricultura
Luiz Patroni | Amsterdam (Holanda)

A produção sustentável é o caminho a ser percorrido pelos agricultores em todo o mundo. Mas a pressão ambiental sofrida pelos agricultores brasileiros não acontece em outros países. Na reportagem desta quarta, dia 17, da série Agropecuária no Velho Continente, vamos mostrar que as exigências ambientais na Holanda são bem menores do que as que acontecem no Brasil.

Amsterdam, a capital da Holanda é diferente de qualquer outra cidade europeia. A começar pela infraestrutura. Parte do território foi construída sobre o rio Amstel. Charmosas embarcações são residências valorizadas que chegam a custar 300 mil euros. Também chama atenção o polêmico comércio de produtos que são considerados ilícitos em outros países.A grande quantidade de bicicletas é outro destaque. São mais de um milhão, para uma população que não passa de 800 mil pessoas. Nas ruas, é comum a realização de feiras livres. Mas é a praça central o mais famoso ponto de encontro dos visitantes. Ali estão o Obelisco em homenagem aos militares da Segunda Guerra Mundial, o Museu de Cera da cidade e o antigo Palácio Real.

Entre construções antigas e histórias seculares a Holanda também abriga discussões modernas. O país é a sede de uma das organizações mais atuantes e reconhecidas na batalha pela preservação ambiental. Mas isso não significa que as cobranças ambientais sejam tão enfáticas quanto as que acontecem no Brasil. Pelo contrário, a realidade é bem diferente.

Os produtores europeus não precisam cumprir nem a metade das exigências impostas aos produtores brasileiros. Mesmo assim, a pressão ambiental, não é nem de longe semelhante a que acontece em nosso país.

Foi o que confirmamos na visita à fazenda do produtor rural Ber Steggink. Na propriedade de 260 hectares, são cultivadas lavouras de trigo para ração animal, batatas e beterrabas, que na Europa são destinadas à produção de açúcar. O agricultor explica que a produção de alimentos é controlada pela União Europeia, que autoriza o cultivo. Mas o mesmo rigor não existe quando o assunto é proteção ambiental.

A preocupação ecológica é ampla na teoria e na prática é bem distinta da brasileira. As reservas legais são desconhecidas por aqui. A totalidade da propriedade é utilizada na agricultura, não é preciso preservar áreas verdes. Quanto às matas ciliares, a situação é a mesma. Os produtores podem explorá-las, desde que não utilizem defensivos a uma distância mínima de 10 metros do curso d'água. Vale destacar que os produtores recebem por esta contribuição ecológica.

– A União Europeia é a entidade que nos obriga a obedecer estas exigências. Como sabem, nós recebemos prêmios e subsídios por hectare, mas cada vez mais a possibilidade de receber estes prêmios está sujeita a obedecermos e prestarmos serviços verdes – resume o agricultor.

Para o engenheiro agrônomo, Eric Regouin, que trabalha no Ministério da Agricultura do país, apesar de distintas, as exigências ambientais na Holanda também são restritivas. Mas, são adequadas à realidade da região. Ciente de que no Brasil as cobranças ecológicas são bem maiores, ele reconhece a dificuldade enfrentada pelos produtores.

– Aqui não se recebe por plantar árvores. Mas é difícil de avaliar. Por um lado aqui na Europa havia tanta floresta quanto havia no Brasil e hoje em dia não há. Isso porque nos últimos mil anos abatemos as florestas da Europa. Mas pode-se dizer que temos novos conhecimentos sobre a importância da natureza. E se a Europa tivesse que começar de novo com um continente cheio de florestas, certamente a situação seria diferente da que é agora. Hoje eu conheço muito bem as preocupações dos agricultores do Brasil no sentido de querer trabalhar, explorar a terra, produzir comida. Então eu posso imaginar que para o indivíduo estas obrigações soam extremamente difíceis. Agora, para a sociedade em geral talvez sejam aceitáveis – relata.

De acordo com o especialista, as organizações não governamentais também pressionam o setor rural.

– Aqui as ONG's são extremamente ativas. Isso se sente mais na área da pecuária, onde o assunto do bem estar animal, a emissão de amônia, azoto, poeira, CO2, são assuntos com os quais as ONG's também se ocupam muito. Cada agricultor, para começar uma atividade e para continuar a sua atividade precisa de uma licença ambiental. Se ele obedece às regras, automaticamente recebe esta licença. Só que a população ao redor, tem sempre o direito de pedir recurso contra estas decisões. Podem elas sentir que são alvo ou vítima da poluição imaginada, percebida ou realista, deste tal agricultor. Agora, as ONG's às vezes utilizam este espaço. No momento em que o agricultor precisa de uma licença ou precisa renovar sua licença só elas que protestam nas utilidades que esta licença seja dada – revela.

De volta ao campo, perguntamos ao produtor se a pressão destes movimentos chega a atrapalhar as atividades e o informamos que no Brasil alguns agricultores estão deixando o agronegócio por não conseguir cumprir as exigências ambientais.

– Nós temos problemas semelhantes aos dos produtores brasileiros. Felizmente a minha fazenda não está sujeita a estas pressões, mas em geral os agricultores holandeses sentem muito a influência das organizações que lutam pela natureza cujo objetivo é pensar apenas na natureza e não mais agricultura. Mas estas exigências não estão tirando ninguém da atividade. Não são suficientes para nos fazer sair do campo – conta Steggink.

Agropecuária no Velho Continente - Fruticultura é destaque na Itália

Itália investe no cooperativismo, tecnologia e apresentação final dos produtos agrícolas
Elevada qualidade garante aos produtores italianos o acesso a exigentes mercados, como a Alemanha
Luiz Patroni | Bolonha (Itália)
A produção de frutas e hortaliças na Itália é destaque em todo o mundo. A série de reportagens do Canal Rural sobre a agropecuária na Europa visitou o país e revelou que a elevada qualidade garante aos produtores italianos o acesso a exigentes mercados compradores, como, por exemplo, a Alemanha. Mas, para isso, é preciso investir no cooperativismo, no avanço da tecnologia no campo e também na apresentação final dos produtos.

Na faculdade de Agronomia da Universidade de Bolonha, especialistas discutem os caminhos a serem seguidos pelo setor. Como a atividade na Itália é tipicamente desenvolvida em pequenas propriedades, com seis hectares em média, a união dos produtores é essencial. O diretor do Centro de Serviço de Hortaliças e Frutas, entidade que reúne 54 organizações de produtores, sindicatos e cooperativas, explica que as parcerias facilitam e melhoram as relações entre fornecedores e compradores.

– Não temos grandes problemas entre os associados, já que todos têm o mesmo objetivo que é trabalhar bem e ganhar mais. O Centro de Hortaliças e Frutas também facilita isso. Organizamos feiras no mundo inteiro e ajudamos a manter a melhor organização possível entre todos os associados – explica o diretor da entidade, Luciano Trentini.

Segundo os especialistas, é preciso dedicar atenção especial para o que os consumidores desejam. Neste momento, isso significa buscar a sustentabilidade social, econômica e principalmente ambiental. Por isso, o setor quer desenvolver cultivares mais produtivas, ampliar a tecnologia no campo e modernizar as técnicas de cultivo.

– O mais importante é a contínua busca para conhecer o comportamento do mercado. Nós exportamos muito para o norte da Europa, um mercado que sempre está mais exigente. Para continuar atendendo estes consumidores precisamos desenvolver novas variedades, que não precisam necessariamente produzir mais, e sim ter uma qualidade melhor, ser diferenciada –, comenta o diretor-presidente do Centro de Pesquisas em Produções Vegetais, Gianpiero Reggidori.

No Centro de Pesquisas em Produções Vegetais, vistosos parreirais indicam apenas algumas das linhas de estudo. A entidade também representa diversas organizações de produtores e direciona as pesquisas em função das demandas que surgem no campo.

O resultado destas iniciativas pode ser visto na entrega das frutas. Na classificação dos produtos, as frutas são separadas por tamanho, cor e peso. Só vão para o mercado se atenderem às exigências estabelecidas.– A segurança alimentar é uma prioridade para nós. Como nossos números são grandes, elaboramos uma organização bem complexa, que começa lá no campo. Temos 40 técnicos que realizam muitos controles na produção e fornecem assistência técnica para os produtores, recomendando as melhores cultivares e as melhores técnicas agronômicas. Assim, vamos receber produtos com padrão de qualidade muito alto. Dentro da cooperativa, o controle continua. Temos amostragem desde a chegada do produto, durante a fase de armazenamento, até a fase de comercialização – explicou o representante da Cooperativa Agrintesa, Mauro Pazzaglia.

O objetivo de tudo isso é conquistar a confiança do consumidor. E é na hora da venda, que o esforço faz a diferença. No centro agroalimentar de Bolonha, 22 grandes atacadistas comercializam a produção. Pequenos produtores também têm espaço para vender. No local, armazenamento e logística funcionam com eficiência, e garantem baixo índice de perdas anuais: cerca 0,5%. No Brasil, chegam a até 20% em alguns estabelecimentos.



O comerciante Massimo Venturoli, durante os 20 anos que trabalha no centro agroalimentar, percebeu que o importante é acompanhar a demanda do consumidor.

– Eu trabalho aqui há 20 anos e, neste tempo, os costumes dos consumidores mudaram. Eles ficaram mais sérios, mais especializados. Eles buscam qualidade padronizada e baixo custo – revela o comerciante – relata.

Esta conscientização dos vendedores também é retratada nas ações elaboradas pelo setor para ampliar as vendas.

– Há cerca de 20 anos, 80% dos produtos eram armazenados em caixas de madeira. Só que, com o passar do tempo, os comerciantes e empresários entenderam que as embalagens representavam uma peça chave na hora da comercialização e adotaram uma estratégia: atrair a atenção, e, depois, o bolso dos clientes – diz Massimo.

O diretor do Centro Agroalimentar de Bolonha, Roberto Piazza, destaca que a embalagem é um requisito fundamental.

– Além de ser mais bonito e esteticamente atraente, você ainda tem possibilidade de escrever ou indicar muitas informações a respeito do que está dentro desta embalagem – afirma Piazza.

O diretor do centro agroalimentar acredita que os produtos brasileiros vendidos na Europa são perfeitamente embalados. Mas no que diz respeito ao mercado interno, Piazza acredita que há muito a melhorar no Brasil.

– Visitei o mercado de Curitiba e encontrei produtos muito belos e muito bons, mas mal comercializados. Há pouco marketing e estratégia de venda. Acho que é preciso aprimorar isso – conclui o italiano.

Agropecuária no Velho Continente - Criatividade amplia lucro de produtores alemães

Produtores alemães usam criatividade para lucrar mais
Agricultores apostam na aproximação dos consumidores da área rural

Luiz Patroni | Lorkenhöhe (Alemanha)

A busca pelo aumento da rentabilidade é um desafio comum a produtores de todo o mundo. A cada dia fica mais difícil para quem vive na área rural conseguir sobreviver apenas com o dinheiro que vem do campo. Na reportagem desta quinta, dia 18, da série Agropecuária no Velho Continente nossos repórteres mostram como agricultores alemães estão fazendo para ampliar os lucros. A solução encontrada foi a criatividade e a aproximação com o consumidor.

O som inconfundível dos trens e o movimento frenético na estação central marcam a cidade de Colônia, a quarta maior da Alemanha. Na cidade vivem um milhão de habitantes. Locomotivas e vagões cruzam a ponte sobre o rio Reno e ajudam a desenhar um dos mais conhecidos cartões postais do país.


Mas a logística diferenciada de hoje esconde uma história triste, que é lembrada pela enorme catedral: um dos únicos prédios que resistiram à Segunda Guerra, quando 95% do município foi destruído. A igreja, que levou mais de 600 anos para ser erguida, ainda passa por reformas.

O movimento que ocorre na cidade pode ser comparado ao que acontece em algumas propriedades rurais alemãs. Na zona rural, visitamos a fazenda de Thomas Eserhard. Dono de 200 vacas leiteiras, o pecuarista encontrou uma maneira de ampliar os lucros sem sair de casa. Há 20 anos começou a vender produtos derivados do leite direto ao consumidor. O negócio deu certo e evoluiu, hoje menos da metade da produção é levada para o laticínio. A maior parte fica na própria fazenda, onde é transformada em derivados como o queijo.

– No começo a produção era como um hobby. Achava interessante agregar valor ao leite através da produção de derivados. Depois de um certo tempo percebi que a rentabilidade tinha aumentado muito por conta dos derivados – comenta o produtor.

A produção de derivados garante um giro financeiro de um milhão de euros por ano. Outros 700 mil euros vêm do pequeno restaurante instalado na frente da fazenda.

– Gosto de vir ao restaurante por dois motivos. Primeiro porque o queijo é realmente muito saboroso e segundo porque eu conheço a origem deste queijo, o que me deixa seguro – conta o consumidor alemão Rolff Médrich.

Em outra propriedade, o produtor Albert Trim também está rindo à toa. Na área de 115 hectares, são cultivados morangos, trigo, cevada e aspargos. Ainda tem espaço para a pecuária e para a produção de ovos. Aliás, para ganhar a confiança dos clientes, os ovos são rastreados. O carimbo indica o sistema de produção, origem e barracão das galinhas. Os consumidores podem, inclusive, fazer um tour pela fazenda.

– Ao mostrar in loco a produção conseguimos ganhar a confiança dos clientes. Tudo fica à disposição deles. Por exemplo, da janela do nosso café podemos observar onde o leite é produzido. Também buscamos trazer para cá grupos, principalmente de crianças de jovens, para que eles possam ver e sentir como é tirar o leite de uma vaca. Hoje o consumidor perdeu esta ligação com a origem do produto e queremos resgatar isso. Da mesma maneira fazemos com o campo de aspargos, que fica aos olhos do consumidor. Assim ele compra sabendo onde é produzido e como foi colhido e isso é ótimo – explica o produtor.

Outro exemplo de empresário criativo é o ex-criador de galinhas poedeiras de Theo Bieges. Cansado de ver a maior parte do lucro da atividade ficar com os vendedores, decidiu abrir o seu comércio. Com o negócio, a renda cresceu, mas seus investimentos estavam apenas começando.

Com o sucesso do comércio, o visionário produtor percebeu que tinha um rentável caminho pela frente. Ao invés de se contentar com os lucros certos da atividade varejista, decidiu ousar ainda mais. Hoje a venda é apenas mais uma atração no imenso projeto que ele criou, que busca proporcionar às pessoas que vivem na cidade, um pouco do gostinho do dia a dia na área rural.

Além do pequeno mercado, o produtor construiu um confortável restaurante e transformou o antigo depósito de feno em um espaço para o lazer das crianças. A diversão sai por 3,50 euros e é claro que não faltam tentações para ampliar esta conta.

– É a primeira vez que vim aqui e já achei o lugar sensacional para passar o dia, principalmente para quem tem filhos. As crianças se divertem e nós também, enquanto elas brincam nós fazemos compras. Hoje mesmo vamos comprar morangos, que estão frescos e acabaram de sair do campo de produção – relata o consumidor Rudolf Merleus.

Uma multidão visita o local. Por temporada, que vai de março ao fim de outubro, 150 mil pessoas passam pelo lugar. O produtor não revela os lucros anuais.

– O faturamento bruto não é importante. O que mais importa para mim é saber que o investimento que foi feito aqui se valorizou. Esta é a melhor maneira para ter certeza de que estou ganhando dinheiro. Também não é tão importante saber se faturei 100, 200 ou um milhão de euros, o importante é saber que meus filhos querem dar sequência a esta atividade que se tornou rentável – conclui o produtor que quer em breve inaugurar mais um empreendimento em outra fazenda da família.

Nesta sexta, dia 19, na reportagem da série Agropecuária no Velho Continente, nossos repórteres chegam à Itália e mostram uma das grandes preocupações dos produtores europeus: os baixos índices de sucessão familiar no campo.

Agropecuária no Velho Continente - Conheça o rigoroso sistema de produção do Queijo Parmesão

Rigoroso sistema de produção garante qualidade do queijo parmesão italiano
Reportagem especial do Canal Rural da série Agropecuária no Velho Continente apresenta os tradicionais produtos da Parmigiano Reggiano

Luiz Patroni e Eduardo Viné Boldt | Modena (Itália)

O parmesão é um dos queijos mais famosos da Itália e reúne admiradores em todo o mundo. A reportagem especial do Canal Rural da série Agropecuária no Velho Continente apresenta o rigoroso sistema de produção desta iguaria.

O queijo parmesão é mundialmente conhecido por suas características únicas, como aroma, textura e sabor. Chega a custar mais de 400 euros a peça. Uma fazenda em Modena, região da Emilia Romana, na Itália, integra o consórcio Parmigiano Reggiano, entidade que reúne quem é autorizado a fabricar o parmesão, que são cerca de 300 queijarias. A propriedade funciona como uma cooperativa, onde 10 sócios cultivam juntos 800 hectares de pastagem, para garantir a procedência do alimento que é dado ao gado.

– Temos que seguir normas para produzir o Parmigiano Reggiano. Só podemos utilizar produtos naturais na alimentação do gado, como milho, feno, alfafa e cevada. Mas não podemos utilizar sementes ou outros produtos que não sejam típicos da região da Emilia Romana. Além disso não podemos usar silagem – conta o responsável técnico da fazenda, Severio Bacchelli.

São 2 mil cabeças ao todo, 1,3 mil em lactação, todos os animais são rastreados. Outra exigência é o bem estar, no confinamento a temperatura é controlada com ventiladores e sprays de água, garantindo conforto ao rebanho. A entrada de luz também é dosada através de mantas.

A produção do queijo possui algumas normas que precisam ser seguidas a risca. Uma delas acontece na hora da ordenha, que é realizada duas vezes por dia, o processo leva em torno de quatro horas, o leite retirado pela manhã deve ser processado obrigatoriamente até o meio dia. Já o que é extraído a tarde, deve passar a noite inteira decantando e só é processado no dia seguinte, após a retirada do excesso de gordura.

– A separação do leite é particularmente importante porque há uma diferença de qualidade do leite produzido pela manhã e o que é produzido a tarde, já que a qualidade do queijo também vai ser diferente – explica Bacchelli.

A responsável pela qualidade dos queijos de outra fazenda, que também faz parte do consórcio Parmigiano Reggiano, explicou algumas das etapas da fabricação e apresentou alguns equipamentos usados no processo, como tachos, onde o leite é aquecido. Segundo ela, são utilizados 16 litros para cada quilo de queijo. Durante 20 dias, o produto é salgado num tanque. A indústria não revelou todos os segredos da fabricação.

Em uma sala é armazenada a produção dos últimos 17 meses. São pelo menos 29 mil peças distribuídas pelas imensas prateleiras, de acordo com a época de fabricação. Além do tamanho e da quantidade de queijos armazenados, outro fator que impressiona é o forte e delicioso aroma que fica no ambiente.

Não é exagero comparar o local a um imenso cofre. Afinal, são mais de 13 milhões de euros em queijo em um único lugar. Durante o tempo em que permanecem na sala os produtos perdem peso, quando chegam entram com cerca de 50 quilos, um ano e meio depois, ficam com 40 quilos, em média. Assim como acontece com o vinho, o parmesão se torna mais caro com o passar do tempo. A garantia da qualidade é descrita na peça, os produtos que não passam no controle também vão para o comércio, mas não recebem a denominação Parmigiano Reggiano. Para manter o elevado índice de 98% de certificação, os cuidados no depósito são redobrados.

– Controlamos principalmente a temperatura e a umidade. Buscamos deixar a temperatura mais ou menos constante o ano inteiro. Não podemos permitir que ela fique abaixo dos 16ºC. Também precisamos ter o cuidado de virar constantemente as formas. Quanto mais novas, mais rápido precisam ser viradas. As últimas formas produzidas são viradas a cada semana. As mais velhas com intervalos de até 25 dias – explica a responsável pelo controle de qualidade, Alessandra Teggi.

A produção total do consórcio é de aproximadamente 100 mil toneladas por ano. O comando sobre a marca, que é registrada, é outra curiosidade da Parmegiano Reggiano. Por lei nenhum outro produto em todo o mundo pode ter as denominações "parmesão" ou "parmegiano". mais do que a proteção comercial, por trás deste controle está a consolidação da tradição italiana em uma atividade que ainda passa de pai para filho.

– Durante toda a vida eu trabalhei com a produção deste queijo. Meu pai e meu avô também faziam a mesma coisa. É uma satisfação fazer um produto que depois será saboreado e apreciado em todo o mundo – conclui o diretor da queijaria, Giuliano Rossi.

Agropecuária no Velho Continente - Baixa sucessão familiar nos campos italianos

Baixa sucessão familiar no campo preocupa a Itália
Árduas jornadas e pouca rentabilidade são algumas das dificuldades enfrentadas
Luiz Patroni | Faenza (Itália)

A baixa rentabilidade e as árduas jornadas no campo são algumas das maiores dificuldades enfrentadas pelos produtores italianos. Mesmo apaixonados pelo campo, muitos não estão conseguindo transmitir o mesmo sentimento aos filhos. O principal resultado é o baixo índice de sucessão familiar, que preocupa produtores e entidades do setor. É o que você confere na última reportagem da série Agropecuária no Velho Continente.

A Itália é um dos berços da humanidade e Roma é um arquivo vivo desta história. Oficialmente a cidade tem 2764 anos, mas há indícios de que muito antes, outras civilizações já habitavam a região. É onde estão vários dos monumentos mais famosos do mundo, do Vaticano às ruínas do Coliseu. O passado se faz presente a cada rua.

Mas se na zona urbana as lembranças são eternizadas, no campo, é o contrário. A pouco mais de 400 quilômetros da capital, chegamos à área rural de Faenza, que se destaca na produção de frutas. Os pomares ocupam mais de 120mil hectares. São milhares de agricultores, que dividem algumas preocupações.


Além dos temas característicos da atividade, como ataque de doenças e pragas, custos de produção e rentabilidade, os produtores de frutas da Itália também estão preocupados com a sucessão familiar. Na região da Emilia Romana por exemplo, a faixa etária média de quem está no campo supera os 60 anos de idade. Jovens com até 30 anos, representam apenas 2% dos produtores.

O fruticultor Michele Berti é um retrato desta situação, aos 57 anos, toca praticamente sozinho a produção de ameixas, kiwis, pêssegos e nectarina. Apenas na época da colheita contrata um funcionário, e paga 15 euros por hora. A propriedade de 15 hectares supera a média nacional, estimada em apenas seis hectares. Além das frutas, aposta também na produção de energia com estas placas solares. Tudo para tentar ampliar os lucros, que segundo ele têm se tornado menores a cada ano. Aliás, este foi o motivo principal que afastou os seus três filhos do campo.

– Eu tenho orgulho de ser produtor, de tudo o que faço e estou fazendo. Mas meus filhos decidiram encontrar outro caminho para o futuro e eu concordei com isso. Não fiquei chateado com a decisão. Sei que se eu precisar de ajuda num fim de semana, eles estarão ao meu lado. Além disso, com outros empregos, eles poderão encontrar funcionários, vender ou arrendar a fazenda quando eu não tiver mais condições de tocar a atividade. Mesmo apaixonado pelo campo, não acho certo trabalhar muitas horas por dia, sem direito a fins de semana, e mesmo assim não estar satisfeito economicamente – desabafa o produtor, ressaltando ainda que para se manter competitivo na atividade a cada dia é preciso mais investimentos e que o mercado não remunera isso.

A consciência de que a realidade é bem diferente da de décadas passadas é compartilhada pela filha mais nova do produtor. Chiara Berti tem 25 anos, está concluindo a faculdade de economia e nem cogita a possibilidade de trocar a futura carreira pelo dia a dia no campo.

– No tempo do meu pai e do meu avô a produção de frutas já era uma atividade desenvolvida na região, só que era rentável e capaz de sustentar a família. A rotina era igualmente trabalhosa, mas havia retorno financeiro. Nós, jovens de hoje, gostaríamos de dar continuidade ao que nossos pais fizeram, mas também queremos mais. Buscamos elevar nosso nível de instrução, frequentamos universidades. Estamos certos que ficar no campo hoje não compensa financeiramente. Precisamos pensar num trabalho que compense o nosso esforço e nos dê perspectivas concretas. Este é o pensamento de muitos jovens nesta região – comenta a universitária.

O cenário preocupante acendeu o sinal de alerta das entidades que representam o setor. Marco Cestaro é diretor geral do Serviço de Produção Vegetal da região da Emilia Romana. Ele reconhece que a falta de sucessão familiar é um dos assuntos mais críticos na cadeia produtiva de frutas e hortaliças na Itália.

– Podemos intervir incentivando o homem do campo. Não podemos conceder créditos diretamente, já que isso impediria o livre comércio, o que é proibido pela Comunidade Européia. Mas podemos fomentar o uso de melhores variedades, pacotes tecnológicos e novas técnicas. Temos que modernizar o sistema agrícola do país, ampliando a tecnologia e direcionando a produção para mercados específicos. Começamos a fazer isso e já temos alguns resultados positivos. Não podemos deixar que as famílias abandonem o campo – conclui o especialista.

Enquanto os italianos buscam alternativas para frear o êxodo rural, o brasileiro Oradi Francisco Caldatto comemora. Produtor rural em Pato Branco, no Paraná, deu continuidade à produção que começou com os pais. Ele se orgulha de ter certeza de que a permanência da família no campo está garantida.

– Eu herdei parte da propriedade dos meus pais, o resto eu adquiri. O meu filho estudou na escola agrícola e está dando continuidade com muito amor, com muita dedicação e muito carinho. O meu neto, que é filho dele, está estudando na mesma escola que ele estudou. Então eu estou muito tranquilo nesta questão. Estou muito satisfeito, muito seguro, estou vendo que na minha propriedade eu tenho perspectiva de sucessão – afirma.

Agropecuária no Velho Continente - Encerramento

Turismo e belas imagens marcam viagem

Durante toda a semana, o Canal Rural mostrou as características da produção rural europeia. Hoje, na última reportagem da série agropecuária no Velho Continente, vamos ver que o roteiro por cinco países também rendeu belas imagens e muito turismo, inclusive uma visita inesquecível ao Vaticano.

Na viagem à Europa acompanhamos um grupo de produtores do Paraná, que foi ao Velho Continente conhecer a agropecuária e as novas tecnologias no campo. A agenda lotada incluiu palestras e visitas técnicas a empresas, centros de pesquisa e a fazendas. Anotações, máquinas fotográficas e filmadoras em ação, durante todo o tempo para guardar as lembranças. Tudo ficará para sempre na memória destes agricultores.



O produtor Modesto Câmera, da cidade de Planalto, ficou encantado com o cronograma. “O que nós vimos, os pontos turísticos, é um sonho. Só vendo para crer, é uma coisa que é difícil até de se imaginar o que a gente tem nesse mundo aqui né” 

O que Modesto também não imaginava era conhecer o Vaticano. Um lugar onde cada detalhe impressiona. O acervo de obras de arte encanta qualquer um. Na Basílica de São Pedro, a famosa Pietá, de Michelângelo. Pelas demais instalações, centenas de turistas. Tanta gente que a Capela Sistina, ficou pequena. Os seguranças, que normalmente proíbem fotos e vídeos, nem se importaram. Prestes a completar 70 anos de idade, o agricultor Arseni Bocalão, do município de São João, no sul paranaense realizou o sonho de toda a vida. 

- “Eu não esperava ter conhecido o Vaticano. Com 69 anos de idade vim conhecê-lo e fiquei impressionado pela obra, por tudo que tem dentro do Vaticano. Passamos 2 ou 3 horas lá e não conseguimos ver nem 10% do Vaticano né”, finaliza o produtor.